Canto das Águas
Seja muito bem-vindo a esse corpo de água! Aproxime-se! Sinta os seus pés no chão. Caminhe até a primeira margem. Sinta as águas desse lindo espelho d’água beijarem delicadamente os dedos dos pés…
Respire…
Sinta como a sua respiração se movimenta junto com as águas. Deixe que seu corpo se integre. Deixe que estas águas relembrem as suas células que você é água. E se deixe dissolver em seu próprio fluxo…
Vou te contar a história deste espelho d’água. As raízes de sua nascente está em meu coração. Em meu amor pelas águas que também é o meu amor pela vida. O amor pela água e o desejo de expressá-lo pelas linguagens que me são mais caras, a começar pela música, me levaram a buscar canções do universo popular brasileiro que dissessem da água.
Nessa pesquisa, pude vislumbrar a existência de diferentes formas de percepção em torno dela. Percebi a presença de motivações espirituais, da vida cotidiana, ambientais, metafóricas, entre outras. Esses sentidos presentes nas obras com as quais me encontrei, dizem de relações que permeiam ou permearam as vidas dos autores de alguma forma. Essa reflexão me fez atentar para o fato de que tecemos diferentes relações com a água, seja pelo nosso posicionamento cultural e espiritual, seja pelas diferentes sensibilidades que nos permeiam.
Somei meu desejo de cantar para a água ao desejo de saber de que formas nós compreendemos a água e nos relacionamos com ela. Assim nasceu o projeto Espelho D’água, contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Juiz de Fora, Murilo Mendes. Junto comigo estiveram Daniel Lovisi, violonista e professor da Faculdade de Música da UFU, Felipe Saleme, ator e cineasta, e Lara Linhalis, jornalista e produtora cultural. Juntos, caminhamos por diferentes bairros da cidade, escutando histórias de antigos moradores sobre as minas de água que eram bastante presentes, fomos guiados por crianças em seus territórios encantados e mergulhamos em nosso próprio espelho d’água.
Mostra de Artes Integradas Espelho D’água
Dessas entrevistas, registradas por meio de vídeo, nos embrenhamos em processo criativo de composição musical, textual e imagética. Em novembro e dezembro de 2014 e janeiro de 2015, apresentamos parte dos produtos realizados, com a Mostra de Artes Integradas Espelho D’água.
“Estar na água sempre foi como estar em casa, protegida e, por vezes, ausente do mundo. Ali, aninhada em suas margens, desaparecia aquele sentimento insistente de ser desencaixada, fora de lugar. Com ela eu podia me reconhecer, me sentir parte de algo; ela me salvava do mundo, ao mesmo tempo que era o meu laço mais consistente com ele. E seria ela, a água, quem me re-introduziria no mundo de uma forma mais pungente e consciente em um processo tão surpreendente e profundo quanto a sua presença nas entranhezas pulsantes da minha vida e imaginação”.
Trecho da Tese O visível e o invisível nos espelhos d’água, de Raquel Lara Rezende
Canto das Águas
A temática das águas seguiu presente em minha expressão artística, trazendo novas composições e propostas de autoconhecimento através da dança, com a vivência Alma Dança, e da minha condução na voz e no canto. Através da água, senti em mim a presença de cada elemento e a importância de integrá-los em nosso corpo, em nossa vida e em nossa consciência. Como bem nos disse Ailton Krenak, você é água, eu sou água. E essa compreensão instaura uma visão de mundo, uma percepção da vida muito mais rica e mágica.
Em setembro de 2018, realizei a apresentação Canto das Águas, no espaço Estelar de Teatro, em São Paulo, trazendo ascanções produzidas em Espelho d'água e outras que vieram depois, ao longo da pesquisa de doutorado.
Esse projeto segue vivo em mim e em minha sonoridade, se assentando para ser registrado em um álbum e um espetáculo.
Assista abaixo a minha participação no Programa Fique Ligado, da TV Brasil.
Tem interesse em investir ou financiar a continuidade desse projeto? Entre em contato!
+55 11 94044-4431